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Zé da Velha, o mais conceituado trombonista de choro em atividade, ganhou o apelido dos seus mestres Pixinguinha, Donga e João da Bahiana. Tocou com Jacob do Bandolim, Valdir Azevedo, Copinha , Abel Ferreira e Joel do Nascimento e junto com Paulo Moura animou muitos bailes de gafieira, levando nossa música a vários paises. Fez base dos discos de Beth Carvalho, Martinho da Vila e muitos outros. Silvério Pontes é filho de trompetista, nasceu apaixonado pelo instrumento tendo iniciado a carreira de trompetista aos oito anos de idade.Teve sua formação em banda de música no interior do Estado do Rio de Janeiro, sendo o único trompetista brasileiro da atualidade que se dedica ao Choro , gênero com uma linguagem brasileiríssima, tendo participado com vários artistas importantes da Música Brasileira como Tim Maia, Luís Melodia e outros tantos.A dupla é considerada pela mídia como a “MENOR BIG BAND DO MUNDO" pela sonoridade reproduzida pelos seus respectivos instrumentos. Da admiração e da amizade marcadas entre esses dois músicos,esse ano fazendo 25 anos de carreira, vamos deixar aqui um pouco dessa história...Sejam Bem Vindos!

Zé da Velha e Silvério Pontes

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Zé da Velha e Silvério Pontes - Ouro e Prata




                                          Ouro e Prata.
                    Lançamento Fevereiro 2012

Poucas parcerias da música brasileira são tão duradouras e profícuas como a do trombonista Zé da Velha - apelido ganho ainda muito jovem por ter tocado com a turma da velha guarda do choro e do samba como Pixinguinha, Donga e João da Baiana – e o trompetista Silvério Pontes. E isso se explica por diversos fatores como o enorme talento musical, o diálogo emocionante e profundo de seus instrumentos, a sonoridade envolvente e intensa que lhes rendeu o apelido de "a menor big band do mundo"... Enfim, poderia passar laudas e laudas e exaltar as virtude da dupla, mas vou me ater ao que acho ser fundamental para eles estarem comemorando 25 anos de união, enquanto o Zé festeja seus 50 de carreira: a amizade! Amizade que supera as barreiras da idade, que faz com que as diferenças estéticas, musicais ou mesmo cotidianas se transformem eu uma coisa só, em som. Cada nota, cada contraponto, cada sopro é um gesto de amor. E o disco "Ouro e prata" o sexto da  dupla não podia ter um nome mais adequado. É rico, é reluzente, tem peso e representa a nossa grande música em meio à pobreza e a falta de brilho de um mercado excludente com que há de bom. Assim sendo, melhor manter Zé da Velha e Silvério Pontes numa prateleira bem longe dessa gente que não enxerga um palmo à frente do nariz, na melhor das prateleiras: a da nossa alma, a da nossa casa, entre outras riquezas especiais.

Nessa comemoração em forma de disco, a amizade definitivamente tem o seu lugar, e por isso, a dupla se cercou de amigos fraternos, de irmão em harmonia, e fizeram um trabalho diferente dos anteriores a começar pela sonoridade. A presença da bateria de Marcio Bahia e do baixo acústico de Guto Wirtti na maioria das faixas já mostra que o caminho a ser seguido é o da releitura contemporânea de uma levada e de uma elegância que se perderam pelos salões iluminados das gafieiras de outrora.  As músicas são tocadas em um andamento mais cadenciado e cada nota justifica a chegada, por vezes surpreendente, da seguinte. E esse encadeamento, aliado à técnica de ambos, à dinâmica, ao imenso talento é que desperta a sensibilidade de nós, simples e mortais ouvintes.
 
O disco - dedicado aos amigos de sopro Paulo Moura, Barrosinho, Márcio Montarroyos e Radegundes - tem participações especiais de mestres de várias gerações como Dominguinhos,  Carlos Malta, Paulo Sérgio Santos, o acordeonistas Bebê Kramer e Marcelo Caldi e os violonistas de 7 cordas Leandro Saramago e Rafael Mallmith. É necessário falar também grupo base que há anos acompanha a dupla: o violonista Charlles da Costa, o cavaquinista Alessandro Cardozo, flautista Alexandre Maionese e os  percussionistas  Netinho Albuquerque, Rodrigo Jesus, e nas Congas, Jakaré. Tudo fera!

Zé da Velha e Silvério Pontes, nessa viagem atemporal pelas gafieiras da vida, nos apresentam um repertório abrangente, mas absolutamente coeso, justamente pelo caminho conceitual proposto. Como pérola primeira temos uma inédita parceria da dupla. "Nas Velhas Pontes" foi criada em Minas Gerais, no Mercado Municipal de Belo Horizonte, em um papo de assobios. "Casa nova", de Pedroca, que durante muitos anos foi pistonista da Orquestra All-Stars, da Rádio Nacional, foi lançada na década de 1950. Já "Menina moça", a música de Luiz Antônio que fez bastante sucesso na voz de Miltinho, na década de 1960, ganha uma roupagem cubana. "Esquerdinha da gafieira" tem a assinatura de um outro mestre do choro, Altamiro Carrilho, assim como os maxixes "Porque choras" e "Saudades de Guará", de Bonfiglio de Oliveira.

Sivuca tem a sua "Músicos e poetas" regravada em um lindo arranjo com participações de Dominguinhos e Marcelo Caldi, dois brilhantes sanfoneiros de gerações e escolas diferentes. Outro músico reverenciado é o "Rei das cordas" Zé Menezes, que tem sua "Bossa n°1" colorida pelos sopros de Carlos Malta, que dispensa comentários, e por uma das grandes revelações recentes da nossa música, o acordeonista Bebê Kramer.

Outro tesouro que ganha novos ares é o choro "Paraquedista", considerado um clássico dos músicos, aquela canção que sempre surge nos bate-papos dos instrumentistas. O autor, o trombonista José Leocádio, fez parte da primeira formação da Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Em 1946, "Paraquedista" foi lançado pela orquestra, em gravação da Continental, em versão instrumental com destaque para seu solo em diálogo com o sax-tenor da lenda Zé Bodega. Esse choro tornou-se seu grande êxito como compositor, sendo regravado no mesmo ano, já com letra, por Jorge Veiga.

Silvério também apresenta duas parcerias com seu cunhado Chico Nacarati, "Alinhavado", uma homenagem ao pai do Chico, um alfaiate do interior, e "Nó na língua", feita para o maravilhoso flautista Claudio Camunguelo. Certo dia, Chico sonhou com o flautista, que morreu em 2007. No sonho, Camunguelo ensinava o nome e a primira parte do choro.Ou seja, o flautista de mãos doces de estivador é parceiro espiritual de Silvério e Chico

Encerrando esse painel multifacetado, o samba-enredo "Aquarela Brasileira", de Silas de Oliveira, ganha uma deliciosa versão instrumental, prova de que essa correria marcheada que vemos hoje em dia na Marquês de Sapucaí já teve melodias memoráveis.

Enfim, "Ouro e prata" é para ser guardado em nosso baú da alma, do coração, junto às nossas mais preciosas relíquias. O encontro de Zé da Velha e Silverio Pontes está, certamente, na caixinha de jóias dos deuses da música.

(João Pimentel)


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